Editorial – Que a esquerda não saiba o que faz a direita – nos referimos à mão

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Editorial – Que a esquerda não saiba o que faz a direita – nos referimos à mão

 

Que nome dar à atitude de quem se vale da vulnerabilidade de centenas de famílias para posar de paladino da benfeitoria, quando não faz nada mais que o cumprimento do seu dever? (Foto: Montagem | Redação CFF)
Que nome dar à atitude de quem se vale da vulnerabilidade de centenas de famílias para posar de paladino da benfeitoria, quando não faz nada mais que o cumprimento do seu dever? (Foto: Montagem | Redação CFF)

Não importa em que você acredite, do ponto de vista espiritual, seja evangélico, católico, espírita, candomblecista, umbandista, messiânico... Com certeza você já ouviu da importância se exercitar o sentimento de gratidão na sua vida pelo que O Criador de todos nos tem dado. Para estes, ousamos afirmar que a importância da gratidão por isso, é tão consenso quanto o senso comum de estendermos, e muito mais quando for por obrigação, a mão aos menos abastados da nossa volta quando deles tomamos conhecimento. Disso não cremos que haja quem discorde.

Mas, e quando o gesto de uns, diante daquele que pode, quem sabe de propósito, ser levado à, grato, considerá-los seu único porto seguro, é usada com oportunismo político em detrimento à exposição de sua imagem? Ou, que nome dar à atitude de quem se vale da vulnerabilidade de centenas de famílias para posar de paladino da benfeitoria, quando não faz nada mais que o cumprimento do seu dever?

De quem estamos falando? Da prefeitura de Camaçari, na pessoa do seu prefeito, Antônio Elinaldo Araújo.

Quem lê os releases enviados pela prefeitura, em especial aqueles de ações sociais sempre acompanhados de um mural de fotos, pode observar com facilidade o destaque dado ao "sentimento de gratidão" da população: as matérias focam em mostrar como a família assistida fica agradecida à prefeitura - quiçá ao prefeito - por lhe socorrer no momento de dificuldade. Para isso, expõe nome, idade, rua onde moram e com quem moram.

Em que pese não haver nenhuma falha jurídica na abordagem, há uma questionável decisão moral.

Primeiro porque qualquer prefeito é eleito, efetivamente, para cuidar da população. Então, se vangloriar de fazer sua obrigação é quase tão ofensivo quanto apelar para a carência do seu povo para se promover em cima de sua miséria. E miséria potencializada por omissão da própria gestão, diga-se de passagem.

É óbvio que quem não tem comida vai se sentir grato ao receber uma cesta básica. É óbvio que quem perdeu roupas e até móveis num alagamento vai se sentir grato por receber um cobertor. É óbvio que quem vê seus filhos sem o mínimo de itens de higiene vai se sentir feliz por receber um ticket para suprir essa falta no mercado da esquina.

Um prefeito que de fato respeita sua população não iria expor jovens, mães de família e idosos, inclusive com informações de onde e com quem moram, a benefício de satisfazer seu próprio ego sob o pretexto de se mostrar um governo presente.

É claro que a prefeitura pode e deve noticiar suas ações em benefício da população. No entanto, há um limite entre noticiar ações do poder público e ser leviano com o sofrimento de seu povo. Já aplaudimos essa gestão, pela normalização dos logradouros – inclusive fizemos zoada em desfavor de quem antes somente ensaiou cuidar da matéria sem que nada de efetivo fosse feito, mas a gestos como o de agora não aplaudiremos jamais. Não foi uma casa reconstruída, foi um prato de comida.

Camaçari é uma cidade rica, com arrecadação diária na casa dos milhões. De modo que, ao invés de estampar no seu site a gratidão de um povo faminto ao receber alimento, o prefeito deveria refletir sobre permitir que uma criança durma sem sequer uma das três refeições básicas do dia, na pobre rica cidade que governa.

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