CAOS NA SAÚDE: A negligência compartilhada entre população e prefeitura... E as "vidas"

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CAOS NA SAÚDE: A negligência compartilhada entre população e prefeitura... E as "vidas"


 'Aqui dentro tem vidas!', diz senhora, em vídeo que circula nas redes sociais (Foto: Montagem | Redação CFF)

"Aqui dentro tem vidas!", diz uma senhora, em vídeo que circula nas redes sociais. No vídeo, a fala dela se refere exclusivamente à vida dos pacientes, já que ela, naquele momento, está denunciando supostas falhas de atendimento cometidas pelas equipes da UPA da Gleba A.


Independente do teor das denúncias, ela está certa nisso: ali dentro tem vidas. Muitas. Tem as vidas dos pacientes e dos familiares dos pacientes. Tem as vidas dos médicos, dos enfermeiros, dos técnicos de enfermagens, das recepcionistas, dos serventes e dos familiares deles.


Dentro da UPA da Gleba A, a grande diferença entre essas vidas todas é o valor percebido de cada uma delas: enquanto a vida dos pacientes é vista como importante, a dos agentes que mantêm o sistema funcionando, diversas vezes, nem é vista.


Erros médicos acontecem, não devem acontecer e precisam ser apontados, expostos, revelados, estancados, corrigidos. Nada disso, contudo, minimiza o fato de que os profissionais de saúde também são humanos e, especialmente aqueles que não erram, estão se colocando em risco, enquanto se dedicam a cuidar de pacientes que, em sua esmagadora maioria, poderiam e deveriam não estar ali.


De acordo com informações da Secretaria de Saúde (Sesau), as equipes estão trabalhando em ritmos intensos, para conseguir dar conta de cuidar de um número cada vez maior de pacientes. Enquanto os números de casos de covid-19 crescem no município, a capacidade de assistência piora em ritmo igual ou pior. Além disso, Camaçari agora enfrenta um problema já vivenciado em outras partes do país: a dificuldade de contratar profissionais de saúde.


São dois lados da mesma moeda. E o nome da moeda é negligência. De um lado, o poder público deixa de realizar ações preventivas que de fato deem resultado, como lockdown, fechamento de espaços públicos, punição ao comércio que desobedeça os protocolos de segurança, fiscalização intensiva e ostensiva, assim como ter planejamento eficaz para ampliar o número de leitos, quando necessário.


Do outro, a população que age como se não houvesse pandemia, participa de aglomerações, deixa de usar máscara, abandona os cuidados preventivos de higiene e, não raro, essas mesmas pessoas criticam o poder público.


Na terça-feira (23) Camaçari superou a marca dos 2.000 casos ativos de Covid-19. Foram 304 novos casos confirmados e mais 7 mortes em 24 horas. No início da semana, de acordo com a Sesau, haviam 41 pessoas esperando vagas em leitos, sendo 22 para leitos clínicos  e 19 para Unidade de Terapia Intensiva (UTI).  A cidade está a cerca de duas semanas com superlotação contínua dos leitos.  Esse quadro poderia ser o oposto, se houvesse um verdadeiro pacto pela vida, mas não há.


O que há é um jogo de política de interesses particulares, de todos os lados, que afeta quem joga e quem não joga: a prefeitura não tem coragem para gerir a crise com pulso firme, porque teme o saldo político que tomar as atitudes necessárias iria gerar e espera, quase passivamente, que a população e o comércio se conscientizem; o comércio faz "vistas-cegas" porque não quer se indispor com seus clientes; a população finge que está segura, se expõe e espera que o poder público abra mais e mais leitos, assumindo a responsabilidade pelas vidas de quem se cuida e de quem não se cuida.


E nesse jogo de empurra-empurra de responsabilidades, que o Camaçari Fatos e Fotos (CFF), denuncia, que algumas vidas seguem e outras não. Até o momento, em Camaçari, já foram 178 vidas que deixaram de seguir. E contando...

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