A flexibilização da quarentena em Salvador já é uma realidade com data para começar. Nesta sexta-feira (24) poderão reabrir shoppings, centro comerciais, comércio de rua acima de 200 m², templos e igrejas, além de drive-in (leia aqui). Mas especialistas enumeram argumentos contrários à retomada das atividades na capital neste momento.
Salvador, que já chegou a registrar um acumulado de 11.707 casos ativos da Covid-19, tem nesta quinta-feira (23) 2,8 mil pacientes ainda doentes. A infectologista e coordenadora do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Aliança, Áurea Paste, vê o índice como um fato positivo. “Significa que nós estamos diminuindo a quantidade de pacientes infectados pela Covid-19. Então a pandemia está com uma tendência à queda da disseminação, e isso é bom”, disse.
A médica afirma que a redução de casos ativos é motivo para comemorar, “mas não para estourar champanhe”. Mesmo que a situação apresente melhora, ela garante que não é o momento para baixar a guarda.
“A abertura do comércio nos traz um pouco de aflição porque pode ser que a transmissão aumente novamente. Então a gente fica meio receoso. Se a gente descuida, a infecção volta a crescer. E pode haver uma segunda onda”, reconheceu Áurea.
O médico especialista em medicina preventiva e social e professor da UniFTC e da Ufba, Washington Luiz Abreu de Jesus, explica que a curva de transmissão do coronavírus não está em decréscimo, mas em platô. “Não é momento para flexibilizar, do ponto de vista epidemiológico”, cravou o médico.
Ele cita como exemplo municípios baianos em que houve flexibilização da quarentena e abertura do comércio, como Feira de Santana, Vitória da Conquista e Itabuna, e que o resultado foi o crescimento de casos. Washington esclarece que no platô não há garantia de que a abertura não volte a aumentar a infectividade do vírus na população.
Sobre os dados de casos ativos ele ainda faz o alerta de que as ocorrências documentadas podem ser apenas “a ponta da disseminação” e não refletem a realidade, já que se sabe que pessoas podem estar infectadas e assintomáticas. O médico também chama a atenção para o percentual da população testado, que ainda é baixo.
Na Bahia, considerando os 138.358 casos já confirmados desde o início da pandemia, e de acordo com informações do boletim da Secretaria da Saúde desta quinta-feira (23) sobre casos descartados (283.438) e sob investigação (78.411), 500.207 casos foram analisados/testados. O número equivale a 3,37% da população, estimada pelo IBGE em 2019 em 14,8 milhões de habitantes.
Diantes desses fatos, o opinião do médico é de que seria mais prudente esperar mais um pouco para que o comércio seja reaberto na cidade.
Mas a reabertura já foi anunciada pelo prefeito da cidade, ACM Neto. Mesmo assim, a infectologista Áurea Paste recomenda às pessoas que só saiam de casa quando estritamente necessário, além do respeito a todas as medidas divulgadas pelas entidades de saúde.
“Só sair mesmo em caso de necessidade. Em saindo, respeitar essas recomendações. O ideal é que os estabelecimentos comerciais colocassem as regras e as seguissem corretamente. A quantidade de pessoas que pode circular com segurança, manter o distanciamento, uso de máscara, higiene das mãos...”, aconselhou a médica.